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  • Foto do escritorcoletivocalcaneos

GENOCÍDIO

Atualizado: 31 de mai. de 2020


quando me mataram de vez,
quando me mataram aos bocados.

Você me vê? Olhar meu que chega respeitando o tempo Ora dizem de mistério, mas olhado de frente à fundo Traz ar que flutua e, aterra. Você me vê? Olhar meu, cheiro meu, escuta minha... Orelhas minhas... brincos meus. Nesse dia em que não vou colocar o brinco no trem. Como saio. Como chego. Me transcendo Me transvisto Visto Vista! (E o cabelo posso tocar? Não!) Você me vê? Olhar meu, cheiro meu, escuta minha Orelhas minhas, brincos meus, boca minha Fala. Você sabe de amor? Entende de respirar, de pulsar? Entende do beijo de adeus no ponto do ônibus que não pôde acontecer? Vale gente que morre por beijar? Você me vê? (Exilado MMXIX) Caminho com GENTE me olhando O tempo todo, há todo tempo Cada momento Horas, minutos, segundos, milissegundos, microssegundos, nano segundos Apenas por SER, também, GENTE. Nos traços meus, Na pele, Na cor Nos trejeitos meus, Do nascer que sou! Me afogam com todo esse olhar. E você me vê? Só a caminhar. Com tudo isso no meu interior há borbulhar, e então, a re-voltar. Caralho, por ser quem sou. Dos nascimentos que dão de justificativas para as mortes. Mas você me vê. Cabelo que flutua feito nuvem. Hoje eu escolhi não prender. Mas aí, prenderam. Me. Conto de um carro roubado em um estado que eu não estava. N’outro canto eu viagem a trabalho, comprovado! Conto com foto e voz. Mas, foi no conto que a vítima confirmou: “O cabelo é igual, senhor!” Cabelo valeu-se prova Pelo cabelo valeu-se Presa! Presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, presa, p Justo? Justo. Justiça? Cadê? Porque eu mesma estou aqui Eu que senti minha pele arder e queimar. Lembra do último calor mais forte que tu sentiste que não fosse aguentar? Chamas em mim que passaram desse lugar Arrastada a asfalto quente, depois de atirar em meio seio. (gente) O tamanho do ódio que ele carregou no peito... 1 facada. Morri quando do centro das pernas naquela noite forçada o sangue jorrou. 2 facadas. Pra não ter realmente volta. 3 facadas. Sabe. Parece que não vai acontecer. Com o olhar zonzeado não consegui nem crer. E na minha cabeça foram 4 sem volta. Arrancada, decapitada, depois da dor gerada, A minha imagem foi circulada. 5 facadas? 6, 7, 8 facadas, 9? Filhos, filhas, plurais. Era o último ovo e caiu no chão. Eu tô com fome. Minha mãe chora. 10, 11? E se a gente tivesse comido hoje, pelo menos a gente conseguia pensar. Tem gente que “tá” com fome. 12? Iêê... Óia eu ó meu sinhô, Liberdade não deixou, Por falar, só por falar, foi então que eu morri Preto, velho, muita história, sabedoria não ouvida, Ai o golpe então pegou, o ar sinhô, parou. 13? Segura! Prenderam, prenderam. Quem foi? Levaram minha mãe, senhor. Levaram a minha mãe, senhor. 14 facadas? Do ônibus do badalar da meia noite Da noite e meia da meia volta da vertigem tontura tortura Lotação de figuração masculina que me silenciou Do corpo pausado tremulado Do ponto do olhar da estratégia Da cabeça que não para Do correr até chegar em casa E chegar em casa soltar o ar... Mas no receio de até morar sozinha. Qual ser humano merece isso? 15 facadas? Da igualdade que não está Não veio nem para se relacionar. Como adivinhar? Qual companheiro pode me matar? Nem sei se viva estou, pois foi no peito que pegou. A facada certeira literal, na frente da filha que chora grita, não parou, 16 me matou. 16 facadas foram o tamanho do seu ódio. Ninguém ouviu. Farei uma pausa pra chorar. . . . . . . Sentada no banco do carro, nenhum vidro blindado. Rasteia tiro. Na mente, um vão... Onde Foi Parar O Pulso... Do nosso coração? Eu não estou morta! Eu estou viva! Ainda. Por enquanto. Levei foi soco, empurrão, fui discriminado. Por ser gente. Eu sou gente! Você sabe o que é ter sua morte premeditada a sua frente? EU SEI (Daniel Marques) PRESENTE! Agora, você me vê. . . . Decreto para devido fins, sob lei, que já não gera empatia, alteridade e amor. O pulso do coração da humanidade, parou. A humanidade, morreu.



Intérprete-criadora: Joelma Souza.
Em cena: Espetáculo “Filhxs--da--P º##@! - T O D A.
Por: Joelma Souza e Coletivo Calcâneos, 2019. 




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