coletivocalcaneos
Me deixe aqui
Eu te amo e foi assim que aconteceu.
Eu “tô” aqui. E a partir de hoje, sozinho. Se eu parar é pra fazer mais um nó dos caminhos que me levaram até você.
Eu “tô” aqui. Trilhando novos caminhos, conhecendo pessoas novas, mas a saudade é a mesma, como as manhãs na varanda com o cigarro acesso e eu pensando em como você me amar. Eu tô aqui. Desde o primeiro riso, até quando o universo caiu sobre mim. Suavemente.
Eu tô aqui. E eu me culpo por você ter parado junto comigo. A gente já conhece esse caminho. Não é fácil ter que levar tanta coisa e simplesmente fingir que estava conseguindo andar.
Eu tô aqui. E tenho várias marcas no corpo, principalmente no peito. Eu sou chuva, eu sou pássaro e dessa vez não vai ter nenhuma asa quebrada, patas e sentimentos feridos. Eu crio tanta coisa dentro de mim, e de todas as saídas, sempre é você.
Eu tô aqui. Eu precisei soltar tudo, tudo, pra dar conta de mim. Eu te amo. Olha pra mim.
Quero me esquecer de lembrar. Quero me perder no fluxo dos dias, das horas, das multidões.
Quero correr o mais longe que eu conseguir. Quero gritar. Olha pra mim.
E agora, eu já não me importo mais com minha história. Eu quero pular de um penhasco e aceitar que tudo tem que estar do jeito que está. A gente nem comanda a gente, muito menos outra pessoa.
Esta é minha oração pro vento, pro tempo, pro destino e pra Deus. Me deixe aqui. Estou pronto.
Intérprete-criador: Lucas Pardin.
Em cena: Espetáculo “Carmen”.
Escrita de 21 de novembro de 2017.